
Era uma segunda feira de junho de 2001 quando chegávamos em Paris, eu e meu amigo Júliom para um pit stop antes de ir pra Amsterdam, mas já logo vou tirando o glamour do início dessa história. Com apenas 500 dolares no bolso, fruto de uma rescisão de um trabalho em bar de São Paulo, somado a mais alguns trocados que juntei.
Nessa ocasião, o nosso anfitrião que nos aguardava em Paris, era amigo de um amigo de outro amigo, mas que nos recebeu tão bem quanto se fosse um amigo de infância.
Ele era Goiano e fez uma "quase" autêntica galinhada do serrado, pois não tinha o pequi. Na hora em que o jantar saia, lá por voltas das 20h30, a noite ainda não havia caído e o céu estava rosa, rosa e vários tons, como raramente vemos aqui em São Paulo ou em qualquer outra cidade afetada com a poluição dos carburadores típicos das grandes metrópolis.
Ao olhar da Janela, eu apreciava a paisagem e a arquitetura clássica das casas mais simples de Malakoff, um bairro simples e um pouco longiquo da região central de Paris. Algo diferente afetava meus sentidos, o cheiro ainda não tão familiar da galinhada do serrado, as risadas contadas por um comediante francês que também estava nos recebendo e, de repente, tudo para. Um furão sendo parte da diversão garantida. Mas, de repente, todos param e alguém perguntava: “onde está o saca rolha?”. Todos mobilizados em busca do tal, que rapidamente foi encontrado.
Enquanto um servia a galinhada que tinha um aroma novo pra mim, uma das pessoas convidadas era uma mulher francesa que disse no momento: “Ah! Hoje vamos tomar um Bordeaux” (mentira minha, hoje eu “pintei” que foi isso que ela falou). Porém lembro dela falar do vinho como nós falamos de marcas de cerveja aqui no Brasil. Anos depois, já de volta ao Brasil, perguntei ao anfitrião qual era o vinho, e descobri que a tal bebida custava 5 Euros e que nem ele lembrava qual era o rótulo.
O resultado foi o melhor jantar harmonizado da minha vida, devido ao ambiente estranho como um filme francês visto pela primeira por nós brasileiros; pelos quase amigos que estavam naquela sala; pela comida (ah, aquela galinhada!); pelos múltiplos tons de rosa que aquele céu rosado tinha às 21h05; e pelo clima bucólico enxergado pela janela de um apartamento simples de Paris.
Esse foi o melhor vinho da minha vida, obviamente sem esquecer os vinhos doces de garrafão de 4,5L, com rede de plástico que eu e meus amigos tomávamos na adolescência.
Ah, esses foram memoráveis!

Leonardo Barbosa tem 47 anos, trabalha com gastronomia e também é sommelier.